sexta-feira, 24 de abril de 2009

Manual do Eu - Lírico

Seja confuso e depois diga que está tudo errado e tudo certo e volte ao direito, demonstre o inverso. Seja loucura minha, finja selvageria e cante o que tiver que amar. Depois me abraça, me abraça e desmancha as farsas, do amor fingindo não ser amor. Do ódio fingindo ser ódio. Seja intenso como um beijo gostoso, inesquecível, selvagem, que se encaixa e se prende. E pertencemos pra sempre num forte abraço. Tenha garra, tenha marra, vá a luta. Não chore, só chore, só chore. Seja verdadeiro no meio das suas falsidades e aprenda a ser sincero depois da curva. Voe mais rápido que o vento, rasgue as cortinas que impedem a luz do sol e transe muito. Seja libido até os ouvidos.

Viva de maneira única, ame tudo de maneira única, use a palavra “único” pra tudo que deve ser eternizado. Coma besteiras e não engorde. Xingue a mãe de todo mundo e não conte pra ninguém. Vá além. Além das línguas que beijou, os abraços que deu, o tempo que preencheu. Vá além dos objetivos que sacramentou. Vá além das estrelas, das filosofias furadas. Vá além da timidez. Vá além do medo, dos segredos. Seja de uma pessoa só e de várias ao mesmo tempo. Seja amigo pra todas as horas, pra todas as dores, pra todos os amores. Seja impaciente com bobeiras. Tenha paciência delicada para poder levantar quem cai.

Queira muito alguém, lute muito por esse alguém, mas não aceite jogos bobos de ciúmes. Seja genioso, seja genial, seja inconstante e sempre mutante. Não deixe que as pessoas descubram que carinho na nuca te enfraquece. Não deixe que saibam que pôr-do-sol é seu maior vício. Não deixem que acompanhem suas palavras para descobrirem o quanto forte é no meio de tanta fraqueza. Cuide de uma mulher como se fosse eterna menina. Acaricie até que saiba que é única, depois critique pra apontar os erros. Seja humilde pra saber que é extremamente imperfeito, mas não assuma pra ninguém. Também não pise em ninguém, só em quem te apedrejar. Minimize seu sofrimento com poesia, beba o vinho do ano passado da geladeira. Volte sempre as histórias não resolvidas, mas não insista quando vir que é inútil. Enlouqueça com presentes inesperados. Saboreie a pele, o cheiro, o gosto do outro. Vá além dos limites impostos. Saiba se entregar, mas não se machuque. Se machucar, escreva. Se machucar vá ao teatro. Se machucar não ligue novamente. Se machucar não tente novamente. Se machucar machuque. Machuque três vezes mais do que foi machucado.

Ame três vezes mais do que foi amado. Critique três vezes mais que foi criticado. Viva três vezes mais o momento do que poderia. Pareça um personagem, mas não seja. Deixe confundir, mas não se confunda. Seja só seu e seja do mundo. Escute música na altura da sua voz. Mantenha contato sempre com as pessoas que importam. Cure suas feridas com rock e nunca com pagode. Mude de visual toda vez que precisar se regenerar. Quando tiver carente abrace seu pai, se não tem pai, chame um amigo. Quando quiser morrer se apegue a lua. Ande sem destino pela rua. Leia um bom livro quando sentir saudade de alguém. Viva outras histórias quando quiser se livrar de alguém, mas não use ninguém. Não fique com ninguém enquanto amar o anterior. Não faça do seu beijo uma coisa qualquer e não finja superar o que não conseguiu. Quer ligar? Ligue! Quer xingar? Xingue! Quer desabar? Desabe sozinho! Planeje coisas que nunca faria e faça. Fale com quem nunca achou que iria falar. Bagunce as estrelas artificiais do teto. Ajude alguém ou a uma multidão. Agasalhe o não e diga sim. Faça convites inusitados. E como em todos os outros textos, busque alguém que aceite mergulhar de roupa e tudo no mar e casar contigo pela manhã.

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